O episódio mais recente do Arquicast trata do premiado e surpreendente filme sul-coreano Parasita (2019). O diretor Bong Joon-Ho nos convida a refletir sobre fatos e estigmas de uma realidade social que, apesar de focada numa determinada cultura, é representativa de contextos urbanos diversos, como o sul-americano. A luta de classes, afinal, é característica das sociedades modernas e se vê refletida nos espaços que abrigam essas sociedades. Neste sentido, Parasita é uma aula sobre como as desigualdades estruturais desenham a qualidade do ambiente onde vivemos.
O filme parte de uma premissa relativamente simples: uma família pobre percebe uma oportunidade financeira em trabalhar para uma família rica prestando serviços de todos os tipos. Mas, para que possam otimizar seus rendimentos, precisam manipular a situação a seu favor, criando aparências: falsificam documentos, escondem os vínculos familiares que os unem e mentem sobre suas qualificações. Tampouco parecem se importar com o prejuízo que possam causar aos demais envolvidos, tão absortos que estão em sua própria necessidade.
O que começa como uma história quase cômica vai ganhando complexidade e tensão, e rapidamente nada mais é o que parecia ser. Cercada de metáforas visuais e reviravoltas, a trama encontra nas casas de cada uma das famílias o espaço representativo das diferenças culturais e sociais entre elas. Escassez e excesso; confinamento e amplitude são termos que apontam dualidades materializadas nos ambientes de cada cena, fazendo com que a arquitetura e a cidade sejam tão protagonistas desta história quanto as personagens.
Para conversar sobre as diferentes dimensões que o filme nos provoca a debater, convidamos uma jornalista especializada em cinema, Janaína Pereira, e o arquiteto Danilo Hideki, entusiasta do filme e das relações entre estas duas artes. Dentre os aspectos trazidos para a conversa estão a condução genial que o diretor dá ao enredo, passeando por diferentes gêneros cinematográficos, além de sutilezas encontradas nas entrelinhas das filmagens, reveladoras de uma visão crítica sobre as condições de possibilidade que cada contexto econômico permite aos diferentes extratos sociais. Cada família é levada ao seu extremo e a arquitetura se coloca como o palco desigual e cruel onde se desenrolam as situações limites de cada uma.
Ouça a entrevista completa aqui.
Texto por Aline Cruz.